Diários Noturnos

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24 de março de 2016

Quinto poema dos SETE POEMAS PORTUGUESES, por Ferreira Gullar

Prometi-me possuí-la muito embora 
ela me redimisse ou me cegasse. 
Busquei-a na catástrofe da aurora, 
E na fonte e no muro onde a sua face, 

Entre a alucinação e a paz sonora 
da água e do musgo, solitária nasce. 
Mas sempre que me acerco vai-se embora 
como se me temesse ou me odiasse. 

Assim persigo-a, lúcido e demente. 
Se por detrás da tarde transparente 
seus pés deslumbro, logo nos desvãos 

das nuvens fogem, luminosos e ágeis! 
Vocabulário e corpo - deuses frágeis- 
eu colho a ausência que me queima as mãos.

Ferreira Gullar

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'O ar está tão carregado de espíritos que não sabemos como lhes escapar.'(Goethe in Fausto)

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