Diários Noturnos

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3 de janeiro de 2015

Sentimento do Universo

In memoriam a Carlos Drummond de Andrade



Tenho apenas uma boca,
e o sentimento do universo,
mas estou cheio de silêncio.
Minha saudade inventa epopeias
e o tempo vive num corpo antigo,
na pulsação de um amor urgente.


Quando estava prestes a ir embora, a língua
no céu da tua boca pronunciaste:
Nada. Morto o meu desejo, morto
o tempo que deixaste manco,
saqueei a saudade e parti.



Os jornais nunca estamparam
a notícia de que se pode sofrer 
de um silencioso amor
como se sofre de pânico numa guerra fria.
Sinto-me na fronteira do talvez.
Anterior a certezas,
depois de ultrapassar a agonia da ausência,
afundo os pés na areia molhada de mar e me perdoo.



Quando alucinei teu corpo
boiando sob as águas 
de ondas sabor lágrimas,
joguei flores brancas no teu sexo 
e fechei teus olhos.
Acordei amanhecido da noite longa,


esse longo anoitecer
mais sonho que o sonho. 




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'O ar está tão carregado de espíritos que não sabemos como lhes escapar.'(Goethe in Fausto)

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