Diários Noturnos

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25 de setembro de 2013

uma não qualquer quarta-feira

ontem à noite eu vi um fantasma. era branco, voava e apareceu atrás da janela, com o cenário de um prédio do centro da cidade atrás de sua queda: foi caindo, mas voando, numa linha diagonal da direita para a esquerda.
"a queda, em si mesma, contém a ressurreição" (Rappoport, 18--).
nada mais óbvio do que ter visto um fantasma ontem à noite, depois de um dia de setembro de 2013 que foi de 2008 a 1989, passando depois por 1982 - com os olhos fixos, pingando de emoção, na poesia duma mulher que resolveu cair no túnel sem volta aos 30. a poesia poetiza independentemente sobre paixão. e é este o tema da minha vida.
cheguei a pensar que setembro deste ano veio como uma apunhaladinha injusta no ápice do cérebro. mas aí que fui surpreendida. alguma coisa tinha que acontecer. este mês me serviu como recaptura do tempo e do quanto ele custa. de susto em susto, vi um fantasma branco voando atrás da minha janela. um jeito de sentir esperança. dormi, depois disto, tão fundo que nem acordei para ir ao banheiro durante a noite, coisa que faço religiosamente pelo menos duas vezes durante o sono do descanso noturno depois da vida comprida do dia. e então acordei, antes de qualquer apito do despertador, e fiz café, estou lavando roupa, separei o médico e o monstro para ler à noite, ouvi belchior, comi banana com cereais e vou me preparar, com banho e tudo, para ler em espanhol sobre a divisão do sujeito, texto traduzido do francês, de um psicanalista reverencioso que discorre com humor poético e densidade teórica sobre a contribuição da psicanálise para se pensar os laços sociais contemporâneos.
enquanto faço este diário, Lóri, minha gata, dorme na cadeira que se porta no meio da sala de estar. a cabeça pousando delicadamente sobre as patas-mãozinhas. os olhinhos parecendo vírgulas de um livro da clarice, o nariz rosinha-bebê e o rabinho peludo e cinza caído cadeira a fora como se fosse um tecido da roupa da rainha de roma. um jeito de sentir esperança.

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'O ar está tão carregado de espíritos que não sabemos como lhes escapar.'(Goethe in Fausto)

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