Diários Noturnos

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2 de outubro de 2014

Um ser sem espécie semântica




O homem é coisa
enigmaticamente curiosa:
perde uma vida inteira
explicando o que
não tem explicação,
inventa palavra
para ser mal-entendido
e mal-entender,
dizer e desdizer,
e até explica a palavra
que ele mesmo criou
para significar
o que não se pode
exprimir por palavras:
i.ne.fá.vel

Disse Michaelis:
inefável
adjetivo
(do latim ineffabile)
Que não se pode
exprimir por palavras.

Revoltado por não caber
no dicionário,
o homem dedica-se
a explicar tudo
- até o que fica
entre o silêncio
de cada palavra -
para desviar a atenção
da definição de si mesmo.

Talvez somente
se possa ter
uma faísca de luz
sobre o enigma
do ser do homem
na cadência
de versos poéticos,
o lugar da grandeza
da falta de sentido.

Na poesia
há a invenção
da explicação
fora do terno
da ciência.

Aqui eu te invento,
homem.
E te segredo o amor,
aquele outro indizível:

Você é um ser
indicionário,
sem espécie semântica,
que vai durar
na minha boca
enquanto
houver verso
para eu te virar
do avesso.




Um comentário:

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'O ar está tão carregado de espíritos que não sabemos como lhes escapar.'(Goethe in Fausto)

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