Diários Noturnos

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3 de setembro de 2011

Asterisco histérico

Dicionário Imaginário (acting out)

Quero fazer um exercício mental. Por correr o risco de todo o processo cair labirinticamente no poço do limbo, pus o pensamento em coleira. Afinal, palavra escrita é o que me incrimina. Sejamos amorais por lógica literária. Cometer o crime, por via de regra sublimatória, é o salvamento heróico em carne. Corda no pescoço, batalha-naval, inquisição, apedrejamento, asas de bigorna ou suicídio. Eu preciso de um resultado. Me engajar neste registro me salva do eu pelo ato de materializar o que antes se assemelhava a uma gelatina cagada ou bílis regurgitada. Me propus a seguinte tarefa: significar a palavra des.con.fi.ar sem atrever a curiosidade em qualquer outro dicionário que não seja este que carrego subjetivamente em profundeza sanguínea. Imaginei um cavalo negro num galope escandaloso. Todos os seus músculos de ferro delineados sob a túnica de pêlos que reluzem a velocidade na medida em que o sol fisga o seu desbravamento corajoso. Ui. A esperança cravou os dentes na minha elaboração teórica. A cena do cavalo negro é um contra-argumento pois veste em símbolo o que seria con.fi.ar. Des.con.fi.ar seria a violência humana de interferir nesta liberdade animalesca com esporas metálicas & chicote encouraçado. Desconfiar é limitar a entrega. É um abraço de mãos amputadas. Um abraço com olhos em direção transversal por cima do ombro alheio ao invés de contemplarem a escuridão do corredor da retina. Desconfiar é estar nu com um canivete enfiado no cu. É engatinhar sorrateiramente vestindo sapatos de salto alto.

_________

A Azeitona (passagem ao ato)

Sabes o motivo de uma azeitona ter caroço, lobo mau? É para travar o caminho interno do teu pescoço te fazendo desengasgar as vogais da frase que a tua desconfiança engoliu:

_ _ t_ _m_.

T. M. Teoria (da) morte. Tesouro malevolente. Travessia melindrosa. Trauma (de) mulher.

Desconfiar atrofia o amor, Lobo Mau. Estenda-me tuas mãos. Aceita esta azeitona.*

-- Eu te amo, desengasgou o Lobo. E galoparam o amor.

*Azeite este aceitamento.

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'O ar está tão carregado de espíritos que não sabemos como lhes escapar.'(Goethe in Fausto)

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